Nova espécie de cigarrinha do milho capaz de transmitir enfezamentos é observada em Goiás

Economia

Os enfezamentos na cultura do milho tornaram-se uma das principais causas da redução da produtividade das lavouras do grão nas últimas safras. Segundo Sabato; Barros; Oliveira (2016), os danos em decorrência dos enfezamentos na cultura do milho podem ser superiores a 70%, resultando entre outros sintomas, na redução do tamanho das espigas do milho, impactando diretamente a produtividade da lavoura.

Os enfezamentos são doenças causadas pela infecção da planta de milho por microrganismos denominados molicutes, que são um espiroplasma (Spiroplasma kunkelii) e um fitoplasma (Maize bushy stunt). Os dois tipos mais comuns são o enfezamento-pálido (causada por espiroplasma) e o enfezamento-vermelho (causada por fitoplasma) (Embrapa).

Esses enfezamentos são transmitidos pela cigarrinha do milho (Dalbulus maidis), até então considerada o único vetor das doenças no Brasil. Levando em consideração que os enfezamentos só acometem a cultura do milho através da transmissão dos molicutes pela cigarrinha (Dalbulus maidis), o manejo e controle da doença tem sido voltado nas últimas safras ao combate à cigarrinha, pela eliminação do vetor.

Contudo, recentemente um estudo desenvolvido por Ferreira et al. (2023) relatou a ocorrência de outra espécie de cigarrinha no milho, que não a Dalbulus maidis, que também possue a capacidade em transmitir fitoplasmas. Trata-se da espécie Leptodelphax maculigera (Stål, 1859), uma espécie africana, com ocorrência registrada nas Ilhas Mascarenhas, Costa do Marfim, Madagascar, Quênia e Camarões.

Figura 1. Macho adulto de Leptodelphax maculigera em vista dorsal (a), ventral (b) e lateral (c).

Fonte: Ferreira et al. (2023)

Até então, essa espécie de cigarrinha não tinha sido relatada no Brasil, não sendo registrada em território nacional pelo Ministério da Agricultura e Pecuária. Segundo Ferreira et al. (2023), os insetos foram observados no Estado de Goiás, nas culturas do milho, capim-elefante, braquiária e em plantas voluntárias de milho em meio a cultura do feijão.

Por apresentar características visuais similares a cigarrinha Dalbulus maidis, é possível que a cigarrinha Leptodelphax maculigera já dividisse espaço nas últimas safras, entretanto, ainda sem conhecimento da espécie africana no país, a identificação dela pode ter sido prejudicada.

Ferreira et al. (2023) destaca que o adulto da cigarrinha D. maidis é maior que a cigarrinha Leptodelphax maculigera. Além disso, sendo de famílias diferentes, D. maidis (Cicadellidae) possui vários espinhos nas tíbias das patas traseiras, enquanto L. maculigera (Delphacidae) possui um esporão no ápice das tíbias das patas traseiras.

Figura 2. Comparação de Dalbulus maidis adulto com Leptodelphax maculigera.

Fonte: Ferreira et al. (2023)

A presença de mais um vetor dos enfezamentos na cultura do milho, torna necessário intensificar o manejo e controle das cigarrinhas em lavouras comerciais. Embora a ocorrência da espécie Leptodelphax maculigera ainda necessite ser observada em outras áreas de cultivo, fica o alerta frente a possível ocorrência da praga em lavouras de milho.

Confira o estudo completo de Ferreira e colaboradores (2023) clicando aqui!

Referências:

EMBRAPA. ENFEZAMENTOS POR MOLICUTES E CIGARRINHA NO MILHO. Embrapa. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/controle-da-cigarrinha-do-milho >, acesso em: 29/05/2023.

FERREIRA, K. R. et al. FIRST RECORD OF THE AFRICAN SPECIES Leptodelphax maculigera (Stål, 1859) (Hemiptera: Delphacidae) IN BRAZIL. Research Square, 2023. Disponível em: < https://www.researchsquare.com/article/rs-2818951/v1 >, acesso em: 29/05/2023.

SABATO, E. O.; BARROS, A. C. S.; OLIVEIRA, I. R. CENÁRIO E MANEJO DE DOENÇAS DISSEMINADAS PELA CIGARRINHA NO MILHO. Embrapa Milho e Sorgo, Cartilha, 2016. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1059085/1/Cenariomanejo1.pdf >, acesso em: 29/05/2023.

Foto de capa: Ferreira et al. (2023)

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